A Temática Da Fuga E Da Perseguição Na Dramaturgia De Gil Vicente E Vitorino Guimarães

Admin

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Post on Apr 12, 2025

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A Fuga e a Perseguição: Um Tema Recurrente em Gil Vicente e Vitorino Guimarães

A temática da fuga e da perseguição atravessa séculos na dramaturgia portuguesa, encontrando eco tanto nas peças satíricas de Gil Vicente como nas obras mais contemporâneas de Vitorino Guimarães. Embora separados por vastos períodos históricos e estilos distintos, ambos os autores exploram essa dinâmica com maestria, revelando facetas complexas da condição humana e da sociedade em que viviam. Este artigo analisará como a fuga e a perseguição se manifestam nas obras destes dois gigantes da literatura portuguesa, explorando as suas semelhanças e diferenças.

Gil Vicente: A Satira Social Através da Fuga e Perseguição

Nas peças de Gil Vicente, a fuga e a perseguição frequentemente servem como metáforas para a crítica social. O autor utiliza essa dinâmica para expor vícios e hipocrisias da sociedade portuguesa da época, muitas vezes representando a perseguição como uma consequência direta das ações dos personagens. Observemos alguns exemplos:

• A Farsa de Inês Pereira: Apesar de não apresentar uma perseguição física explícita, a peça ilustra uma fuga simbólica de Inês das expectativas sociais e da pressão para um casamento infeliz. Sua busca por felicidade representa uma forma de "fuga" da opressão patriarcal, mesmo que essa fuga seja, em última análise, trágica.

• Auto da Barca do Inferno: Aqui, a perseguição é literal e espiritual. As almas são perseguidas pelo Diabo e seus demónios, representando a condenação eterna para aqueles que sucumbiram aos pecados. A fuga, neste contexto, seria a redenção, uma meta difícil de alcançar para muitos personagens da peça.

• Auto da Barca do Purgatório: Similar ao Auto da Barca do Inferno, a perseguição é uma metáfora para a luta espiritual, onde a fuga representa a busca pela salvação e o arrependimento. A figura do Anjo, que "persegue" as almas dignas, representa a esperança de redenção.

Vitorino Guimarães: A Fuga como Resistência e Sobrevivência

Vitorino Guimarães, escrevendo num contexto histórico completamente diferente, utiliza a fuga e a perseguição para retratar as lutas sociais e políticas do século XX em Portugal. A sua obra reflete a opressão e a resistência, frequentemente retratando personagens que fogem da violência, da pobreza e da repressão. Note-se que:

• A temática da emigração: Em muitas das suas peças, a fuga assume a forma da emigração, uma busca por melhores condições de vida e uma forma de escapar da miséria e da falta de oportunidades. A perseguição, neste contexto, é representada pela falta de esperança e pela dura realidade económica.

• A luta contra a ditadura: A perseguição política se manifesta como um elemento central, com personagens lutando pela liberdade e fugindo da repressão do Estado Novo. A fuga representa, aqui, a resistência e a busca pela liberdade de expressão e de ação.

Conclusões: Um Tema Transversal

A análise comparativa da obra de Gil Vicente e Vitorino Guimarães revela a persistência da temática da fuga e da perseguição na dramaturgia portuguesa. Enquanto Gil Vicente utiliza esses elementos para satirizar a sociedade e explorar a moralidade, Vitorino Guimarães os emprega para retratar a luta pela sobrevivência e a resistência contra a opressão. Ambos, contudo, utilizam a força dramática inerente à fuga e à perseguição para nos apresentar reflexões profundas sobre a condição humana, independentemente do contexto histórico. A persistência deste tema demonstra a sua relevância atemporal, capaz de conectar-se com audiências de diferentes épocas e contextos. A busca pela liberdade, a luta contra a injustiça e a esperança de um futuro melhor permanecem como temas centrais, transmitindo um legado duradouro e relevante na história da dramaturgia portuguesa.